segunda-feira, 17 de setembro de 2007


Em tempos acreditei. Agora começo a acreditar que não tinha acreditado em nada. O amor é a mais doce das ilusões. Tenho dias de acordar e a vida parece-me desfocada. E as únicas imagens nítidas são recordações sem continuidade.


O vento sopra lá fora. Sopra por soprar. Como tudo. Gestos inúteis. Amores gastos. Palavras vãns. Sempre me incomodou o abuso que se faz delas. Quantas frases disse que tivessem valido a pena? E as mais belas recordações são mudas. Como naquela vez que combinamos encontrarmo-nos em silêncio. Sem palavras. Cumprimentámo-nos com um sorriso tímido. Tocámo-nos ao de leve com o olhar. As nossas mãos quebraram o protocolo e ataram-se entre dedos a fazer amor desesperadamente. A seguir foram as bocas. Depois os corpos. As almas. O tempo passou e secou-nos o suor dos corpos mortos. Tinha medo que falasses. Quebrasses inadevertidamente o silêncio com palavras inúteis. Levantas-te sem dizer uma única palavra. Deste-me um beijo em silêncio e saiste. O vento soprava lá fora.
foto by LP


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