domingo, 14 de outubro de 2007

Uma luz


Lá longe, o passar das carruagens nas juntas metálicas, dá-me as horas certas.
Não dormi.
Toda a noite soou o silvo do vento e eu ouvi nele o uivo da minha vida.
Amanheci assombrando a casa trespassada pela luz fria das pressianas semi-abertas. Dou voltas e voltas até me esquecer de mim e sento-me em frente da grande janela que atrai a fuga do meu olhar. Constato que só me encontro comigo quando encontro os olhos daqueles que representaram comigo os múltiplos da minha multiplicidade.
Ao longo do tempo, cada um de mim foi muitos e o que mais custa agora é ter de ser apenas eu. Invento diálogos e monólogos para me dar a ilusão de muitos, mas depois já não sei quem sou.
E digo tanto o amor que fico prisioneiro. E aprendo então que não consigo coinsidir comigo. E que na sua fuga imortal, deixa um lugar vazio e ai sei que, o olhar não têm regresso. Que ninguém me responde, nem me defende, nem me persegue.

Hoje, o vento anunciou uma luz mais pura do que a minha solidão. Eu olhei-a e não sei dizer se ela pertence à noite, se ela pertence ao dia. Mas sei que, um dia, essa luz, será parte de mim.

foto by LP

Um comentário:

Simone disse...

Por vezes também dou por mim às voltas sobre mim mesma na penumbra da noite... Há dias/noites assim. p.s. po-los fora de si é a minha especialidade :-)