"COMICOPERAé o mais belo dos discos, cantado pela mais triste das vozes."É assim que começa a entrevista que Robert wyatt deu ao expresso desta semana. Diria antes uma longa conversa, onde Robert aborda varios tópicos essenciais da sua vida e carreira. Um deles toca-nos.Portugal acabou por se revelar um local especial na vida de Robert Wyatt. Em 1992 o mini-álbum "A short Break" inclue uma série de fotografias do nosso país no início dos anos 50 e uma frase de Robert :«Some forty years ago, i was taken on holiday to another atlantic coast, to Portugal, and discovered that there are different ways of behaving»« As crianças andavam descalças, as raparigas eram ipossivelmente exóticas, os meus pais deixavam-me ficar acordado até tarde porque todas as crianças portuguesas ficavam acordadas até tarde e podiam beber vinho misturado com água. Brinquei com um rapazinho chamado Rudolfo que era tão bonito que se eu tivesse ficado mais tempo ter-me ia tornado homossexual. Foi íncrivel ver esta gente, que era muito mais pobre que nós, ter uma vida maravilhosa na pobreza. Um melão custava um escudo. As pessoas carregavam na cabeça grandes blocos de gelo, com um passo muito digno. Fiquei com vergonha de ter sapatos e tentei andar descalço, mas o chão estava cheio de escarros e a minha mãe obrigou-me a calçá-los. Lembro-me de coisas muito simples, como dormir na praia, com um cobertor e ver as estrelas.Para um rapazinho que vivia num subúrbio de Londres, com brumas e nevoeiros, era como um reino mágico. Isto é incrivelmente romântico, mas eu não percebia nada de pobreza ou de opressão (Portugal ainda era um país fascista), eu apenas via a beleza das pessoas e os diferentes modos de vida, mas não compreendia o que é que isso tinha a ver comigo, como é que eu podia ser parte de algo tão belo como aquilo.»Incrível! Não há dúvida que a beleza está nos olhos de quem vê...
sábado, 6 de outubro de 2007
No reino mágico
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5 comentários:
Lindo! já gostava de Robert Wyatt mas tinha o medo secreto de se tratar de mais um ser abençoado num mundo de música com poucos músicos de inteligência musical...afinal não! Lindo, gostei mesmo, obrigada pela partilha,bjoca
Tânia
Ainda não tive o prazer de ouvir este novo álbum, mas já não falta muito :-)
Bj
fiquei meia confusa ao ler isto... foi um misto de sentimentos. se por um lado o texto é tremendamente romântico e poético, e é do meu país que se trata, por outro também é triste, sujo e negligente. e também é do meu país que se trata. confusa...
Ana
Foi exactamente isso que eu senti ao ler a entrevista do Robert e me fez fazer este post.É incrivel, mas acho que só mesmo quem nunca sentiu na pele a miséria e a pobreza, a pode considerar "um reino mágico". Ou somos nós e o nosso triste Fado que nos vemos como uns pobres miseráveis?...
não só nos vemos como infelizmente passámos mesmo por aquilo (ou passaram os nossos pais) e, por muito que nos custe, julgo que ainda existem meios onde situações muito parecidas ocorram.
ainda hoje estamos a pagar resultados daquela parte do "vinho misturado com água", por exemplo:(
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